quarta-feira, 16 de setembro de 2015

O APITO FINAL




Final do ano de 1969, eu voltava para casa depois de uma viagem para o Rio de Janeiro, onde jogara contra o time do Bonsucesso, na bagagem um par de chuteiras novas, marca Viola, cravos de borracha, fim dos velhos pregos rasgando as meias e a sola dos meus pés. Junto dela um novo sonho, convidado para jogar pelo Bonsucesso com um salário de duzentos cruzeiros, estadia no clube e continuação dos estudos. Agora só faltava a autorização dos meus pais, afinal era apenas um garoto de treze anos. E com um sonho martelando a minha cabeça...
Devidamente autorizado, lá fui eu para a Cidade Maravilhosa jogar pelo Bonsucesso. Foram seis anos entre dente de leite, dentão, juvenil e finalmente reserva do goleiro titular em 1975.
A primeira chance foi em 1976, Maracanã, do outro lado o Flamengo. Vencemos por um a zero, e saí do estádio ovacionado pela torcida, pois havia segurado o ataque do Mengo.
Em 1977 fui negociado para o Palmeiras, time de coração, fomos campeões brasileiro, sul-americano e internacional. Até chegar a Seleção Brasileira em 1978 e levantar o troféu junto com meus companheiros.
Nos anos seguintes, ainda no Palmeiras, fomos tricampeões do Campeonato Paulista, bicampeões do Brasileiro e bicampeão da Libertadores e bicampeão do Mundial de Clubes no Japão.
Em 1981 me casei com a Miss Brasil de 1980 e fui morar no Morumbi. Viajei pelo mundo, os melhores automóveis e até um iate.
Assim foi até 1991 quando encerrei a minha carreira vitoriosa no Palmeiras, torcendo para que meus filhos seguissem o mesmo caminho e realizassem seus sonhos, aceitei a carreira de técnico.
Final do ano de 1969, eu voltava para casa depois de uma viagem para o Rio de Janeiro, onde jogara contra o time do Bonsucesso, na bagagem um par de chuteiras novas, marca Viola, cravos de borracha, fim dos velhos pregos rasgando as meias e a sola dos meus pés. Junto dela um novo sonho, convidado para jogar pelo Bonsucesso com um salário de duzentos cruzeiros, estadia no clube e continuação dos estudos. Agora só faltava a autorização dos meus pais, afinal era apenas um garoto de treze anos. E com um sonho martelando a minha cabeça...
- Jogador de Futebol é coisa de vagabundo. Você vai trabalhar, fazer o Senai, ser um operário. Foi o que ouvi de meu pai naquela tarde de 1969. O que ouvi naquele instante foi o apito final do juiz no jogo entre Sonho x Realidade. Vitória da realidade. O sonho ficou nas escadas do ônibus que me trouxera do Rio de Janeiro.

                                                                                                   KIKO ZAMPIERI