Moro numa rua sem saída, com muitas casas geminadas e outras mais
antigas. A minha é uma dessas antigas, sem garagem, com a janela e a porta de
entrada junto a calçada. É dessa janela que tenho presenciado um movimento
estranho na casa da frente a minha.
A moradora é separada do marido e mora na casa sozinha, percebi que ela
não tem um horário fixo nem de saída e nem de chegada, deve ser alguma
empresária, não só pelos horários, mas também pelas vestimentas, muito chic,
sempre na moda, cabelos arrumados, óculos escuros até quando está chovendo.
Porém não é esse o problema, se é que podemos chamar de problema, são as
visitas pontuais de um homem, alto, moreno, corpo atlético, camiseta colada no
corpo, que chega sempre as segundas-feiras, no final da tarde, abre o portão
com sua própria chave, fecha e entra na casa. Ela sempre chega alguns minutos
antes e quando não, ele a aguarda na frente do portão até a sua chegada.
Numa dessas tardes eu disfarcei que estava procurando meu cachorro, nem
tenho cachorro, e me aproximei do portão, fiquei assustada com os urros e
gemidos altos que vinham da parte de cima, onde provavelmente ficaria o quarto,
envergonhada voltei para casa e fiquei espionando até que ele saísse. Nunca
ficava mais que uma hora, uma hora e meia, sai com os cabelos arrumados, um
sorriso nos lábios e sempre fecha o portão mandando um beijo com as mãos, deve
ser para ela que fica esperando no portão de cima. Uma hora depois é ela quem
sai, shorts ou bermudas, camiseta larga e sandália, voltando lá pelas dez
horas.
Outro fato que me deixa encafifada é o motoqueiro que às vezes chega na
casa, não tem dia e nem horário fixo, parece mais velho que o das
segundas-feiras, algumas vezes passa quase o dia todo, outras apenas meia-hora.
Já me aproximei algumas vezes, quando o motoqueiro está e não ouvi nenhum
gemido ou grito. Presumi que esse deveria ser o marido. O estranho é que ele
não dormia lá.
Contudo é nas segundas-feiras que o “bicho” pega na casa, sei pelo fato
de ter feito amizade com a vizinha do lado e por duas vezes ficamos sentadas na
sala dela, que faz parede com o quarto, e realmente os sons são inconfundíveis
de que duas pessoas estavam fazendo sexo animal, feroz, incontrolável, que
duravam quase quarenta e cinco minutos e depois silêncio, algumas risadas e a
batida no portão da frente.
Confesso que fiquei até umedecida com tanta imaginação e fantasias
passando pela minha cabeça. A vizinha me disse que isso era normal nas segundas
e nos outros dias, era som alto e novelas da Globo.
Eu precisava entrar naquela casa. Precisava conhecer a alcova daquela
mulher. Precisava saber da história dela e se possível conhecer os fatos que
faziam aquela mulher gemer e urrar tanto.
Fui sondando, alguns cumprimentos até que criei coragem e fui bater na
casa dela, era um sábado depois do almoço, com a velha desculpa da xícara de
açúcar. Ela foi muito gentil, era mais bonita de perto, devia estar lavando
roupa, pois ouvi o barulho da máquina de lavar no fundo da casa, mesmo assim
pude sentir o aroma do perfume que exalava do seu corpo suado. Ela pediu
desculpas pela bagunça e me fez entrar. Uma cozinha perfeita, vistosa, enfeites
combinando, cadeiras estofadas em volta de uma mesa com tampo de vidro. Ela me
fez sentar e foi buscar o açúcar. De onde estava pude ver a sala, linda,
aconchegante, tapete branco fofo, poltronas coloridas combinando com as cores
das paredes. Ela voltou. Ficamos conversando. Ela era agradável, risonha, olhos
lindos, dentes brancos, seios fartos e coxas grossas. De repente a campainha
tocou. Era o motoqueiro. Ela me apresentou. – Meu ex-marido! Viajei de novo nas
fantasias. Então aquele era o marido e o outro deveria ser o amante. Ela
conversou alguma coisa com ele e voltou para a mesa enquanto ele deixava o
capacete sobre a mesa e ia para o fundo do quintal. – Minha máquina está
fazendo um barulho esquisito! Continuamos a conversar e a vontade de conhecer a
alcova era irresistível, até que ela me convidou e aceitei com um sorriso
amarelo de vergonha.
Era realmente uma linda alcova, quarto todo branco, cama larga,
cabeceira vermelha, viajei de novo, agora com pensamentos impuros, como diria
minha avó. Era uma suíte perfeita, até havia uma banheira, aliás era uma
hidromassagem. Viajei de novo. Agradeci a atenção e o açúcar e voltei para casa
estarrecida. Que vizinha safada, pensei. Pensei no ex-marido, aliás se ele era
ex não tinha problema, talvez até soubesse. Aquilo me incomodou o resto do fim
de semana, ainda vi o marido novamente no domingo, depois os filhos e netos,
isso mesmo ela era avó.
Na segunda à tarde, esperei o amante chegar, depois que ele entrou,
esperei alguns minutos e fui até o portão, toquei a campainha. Alguns minutos
depois ela apareceu, envolta em um roupão rosa. Só podia estar nua por baixo do
roupão. Pedi desculpas e entreguei a xícara com o açúcar. Ela então pediu que
eu subisse e colocasse a xícara na cozinha pois suas mãos estavam oleosas
devidos aos cremes que passara. Era a minha chance de presenciar a safadeza que
ela praticava. Ao chegar na cozinha corri meus olhos pela sala e não vi o
fulano. – Está com visita? Perguntei como se não soubesse. Ela demorou um pouco
para responder. – Sim! O meu terapeuta. Terapeuta questionei logo em seguida. –
Tenho problemas na coluna. Explicou sem me convencer. – Venha conhecê-lo. Fui.
Apressada. Ansiosa. Curiosa. Até a alcova branca.
Depois daquele dia fico esperando toda segunda-feira o carro do
terapeuta estacionar no portão da vizinha e ele acenar para mim. Ansiosa para a
terça-feira chegar logo e poder receber as massagens do terapeuta na minha coluna.
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