Todo dia
era o mesmo ritual, acordava às seis horas da manhã, tomava banho, escovava os
dentes, recebia um beijo de hortelã da linda esposa, tomava seu café com pão
caseiro e recebia um beijo da sua linda esposa. Vestia a calça jeans, uma
camiseta, o par de bota surrado e no braço direito a tatuagem de dragão. Subia
no coletivo, abarrotado de outros como ele, amenizado pelas palavras da sua
linda esposa em suas lembranças: Te espero seis da tarde no portão. Sempre
insinuante e apaixonada, esperando, realmente, no portão, linda, bem vestida,
sensual, perfumada e louca de paixão. No almoço o prato limpo, uma faca, uma
colher e um garfo, uma vasilha com salada e um potinho com o tempero, preparado
pela sua linda esposa. Nas tardes, um lanche de pão caseiro com frios, que
saboreava com o café fornecido pela empresa. No final da tarde quando dobrava a
esquina da rua onde morava, lá estava ela com os braços debruçados no portão de
madeira, um beijo, ainda de hortelã. Toda noite ela se agarrava à ele e só o
soltava depois de alguns minutos de prazer, recebia um beijo, meio amargo
misturado com suor e adormeciam. Até às seis horas da manhã. Naquele dia ao
abrir o guardanapo, onde estavam o prato, a faca, a colher e o garfo, faltava o
garfo. Ficou alguns minutos olhando o guardanapo aberto, o prato, a faca e a
colher, faltava o garfo. Onde estava o garfo? Ela esquecera do garfo. Comeu o
almoço com a colher. Queria parar de pensar no garfo, não conseguia. Às seis
horas da tarde foi para casa. Sem o garfo. Todo dia, agora, era sempre igual,
acordava às seis horas da manhã, uma caneca de café morno, um pão francês
dormido com margarina. Vestia o macacão laranja, o tênis, agora junto do
dragão, no outro braço, uma tatuagem de um olho com as pontas de um garfo atravessando-o.
No almoço uma bandeja com repartições, sem o garfo.
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